Comportamento e obesidade


O Artigo de Renata Tomaz & Daniela S. Zanini publicado no Scielo chamado Personalidade e Coping em Pacientes com Transtornos Alimentares e Obesidade. As autoras relacionam comportamentos semelhantes entre diferentes transtornos alimentares: compulsão e distorção na percepção da imagem corporal. Ressaltam questões sociais e comportamentos específicos na obesidade e nas comorbidades, como as cardiopatias, nas quais, o preconceito pode contribuir para o surgimento de psicopatologias, depressão e transtornos ansiosos. 
 
A justificativa do estudo está na crescente incidência da obesidade e nos índices de mortalidade e morbidade de seu diagnóstico, pois de acordo com a American Psychiatric Associations, 2002, após 10 anos de diagnóstico de transtorno alimentar a mortalidade acompanha 10% dos casos, o índice dobra após 20 anos.

É sabido que o surgimento dos transtornos alimentares é multicausal e tem como base fatores sociais, biológicos e psicológicos. Por esta razão estudos anteriores ressaltam a eficácia das estratégias de coping, conceito definido por Lazarus & Folkman como estratégias cognitivas e comportamentais  que o sujeito expressa perante situações compreendidas como estressantes; e o coping desadaptativo, que possue o mesmo significado de coping, porém influi negativamente para a contribuição e o desenvolvimento de doenças (Jonge & Dormann, 2006; Schat, Kelloway, & Desmarais, 2005). Assim, compreende-se que o indivíduo pode vir a desenvolver transtornos psiquiátricos, dependendo do estilo de coping utilizado.

O estudo avaliou e analisou a utilização das estratégias comportamentais de coping e traços de personalidade na seguinte população: em pacientes com transtornos alimentares (anorexia, bulimia e transtorno de compulsão alimentar periódica), obesos e população geral.

Os traços de personalidade analisados foram: o fator de extroversão relacionado ao grau de sociabilidade e neuroticismo, conceito que inclui a estabilidade emocional e tendência a apresentar respostas de ansiedade de modo exagerado. Na investigação foram utilizadas a escala de traços de personalidade e a escala de atitudes alimentares para avaliar os traços de neuroticismo e de extroversão, o comportamento alimentar e análise posterior.

A amostra de sujeitos da pesquisa descritiva foi de 109 com a média de idade de 30 anos e meio, sendo 30 pacientes com transtornos alimentares, 30 sujeitos obesos e 49 sujeitos eram provenientes da população geral. O critério para a inclusão foi possuir diagnóstico por médicos psiquiatras e endocrinologistas de transtornos alimentares e obesidade.

No teste de personalidade as perguntas foram respondidas em modo de escala mediante o nível de concordância, desta forma foram agrupadas as estratégias de coping em dois conjuntos: coping aproximativo com a finalidade de solucionar a situação estressante e o coping evitativo com a finalidade de controlar as emoções sem enfrentar a situação de estresse demonstrando maior aceitação e buscando recompensas para descarregar o incômodo gerado.

A média da idade para os sujeito foi de 30,57 anos e o estudo realizado foi descritivo e de comparação entre a personalidade, estratégias de coping  e atitudes alimentares da população com transtornos alimentares x população geral. Verificou-se que indivíduos com maior extroversão têm maior busca de gratificação alternativa e maior estratégias para enfrentar seus problemas. Com relação ao neuroticismo, a descarga emocional explica a presença de atitudes alimentares de risco, pois necessita de alívio emocional para o enfrentamento das situações estressantes, o que caracteriza o sujeito com um transtorno alimentar. Pacientes com transtornos alimentares e com obesidade utilizam de mais estratégias de coping desadaptativo, pois necessitam de descarga emocional (por exemplo, o choro ou outra expressão comportamental das emoções sobre objetos ou pessoas) do que a população geral.

O estudo mencionado confirma a escala de atitudes alimentares EAT-26 como bom instrumento de triagem para a identificação da presença de indícios de transtornos alimentares.

As autoras ressaltam que os transtornos alimentares também são influenciados por traços de personalidade, um deles é o neuroticismo, que requer a descarga emocional voltada ao alívio da angústia causada pela situação estressante, não ocorrendo um investimento direcionado para a resolução da situação geradora da angústia. Um perfil de personalidade que pode ser um fator de risco em si para o desenvolvimento de problemas psicológicos, mais especificamente para o desenvolvimento de transtornos alimentares, conforme Zanini, 2003 e o estudo citado.

Assim, conclui-se que a ação da Psicologia deve estar focada para a reflexão no desenvolvimento do coping, enquanto estratégias comportamentais que visem não só a ampliação do repertório de comportamentos para a resolução dos problemas, como também na mudança da percepção em relação ao meio, na interação psicossocial do sujeito visando combater os traços de personalidade de neuroticismo.

Referência: TOMAZ, Renata  and  ZANINI, Daniela S.. Personalidade e coping em pacientes com transtornos alimentares e obesidade. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2009, vol.22, n.3, pp. 447-454. ISSN 0102-7972.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722009000300015.

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