Abuso Sexual - Filme: Cisne Negro

O filme Cisne Negro traz em seu enredo um tema subjacente entre mãe-filha, o abuso sexual. Elucidar e desvelar o tema exposto no filme se faz necessário, pois tal como na vida real, o abuso sexual também se mostra velado e camuflado. 

Nossa cultura negligencia o abuso de crianças. O impacto, em geral, diante de tal possibilidade se mantém perante o imaginário 
coletivo de “boa mãe” ou de “super-proteção” tal como no filme... A cena em que a questão do abuso se torna claro é retratado no ato em que a mãe vestida de hoby questiona para filha se estaria pronta para ela, então subitamente a cena é cortada. 

O não reconhecimento desta ligação de abuso entre Traumas infantis e Transtornos da vida adulta será uma dissociação cultural? Permite-se apontar, culpar e configurar a vítima como “doente” rotulando e estigmatizando - de transtorno de personalidade dissociativa - se tira o ser de sua principal configuração social (a família), se abduz a soma de suas experiências da infância a custo de quê? Rótulos são para geléias e não para pessoas! Compreender o contexto e a dinâmica familiar é fundamental antes de se levantar a possibilidade de qualquer diagnóstico. 

O filme retrata a violência psicológica, que muitas vezes acompanha o abuso sexual, especialmente em abusos que caracterizam o incesto, o qual exige o vínculo de dependência afetiva. O “incesto pode ser visto como a imposição de atos sexualmente inapropriados, ou como conotações sexuais a um menor para satisfazer necessidade(s) sexual(is) / emocional(is) do agressor(es), que retira a autonomia através do vínculo afetivo. (Blume, 1990) 

Quando o abuso sexual ocorre no filme na relação mãe-filha, as necessidades emocionais de Nina são, obviamente, atingidas e a mãe não permite que Nina seja independente. Neste contexto a filha é vítima e passa a ser usada para atender às necessidades da mãe, exercendo o papel de objeto. Esta violência psicológica pode ocorrer sem o componente do comportamento sexual. É às vezes referido como o incesto emocional ou encoberto, pois ressaltar o impacto semelhante. Não há limites, seja na invasão da mãe se intrometendo no banheiro e no quarto, olhando para auto-lesão de Nina sobre suas costas, exigindo que ela retire a roupa. Nina é infantilizada e sexualizada "minha menina doce". Violações de posse perante a autonomia são indícios comuns em sobreviventes de incesto e podem resultar em comportamentos de auto-agressão, isolamento social, extrema passividade/medo diante da figura de autoridade e extrema preocupação com a sexualidade. 

No filme somos deixados a interpretar a cena final: a morte como resultado da busca patológica para a perfeição? Ou a única saída que se possa imaginar de abuso, o esforço final de Nina para se libertar? Interrogações de um conflito sem fronteira e que não houve espaço e reflexão para buscar ajuda ou acompanhamento profissional...

Comentários

  1. Eu não havia percebido o abuso por parte da mãe

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  2. Eu não entendi muito esta questão,como assim abuso sexual?a mãe dela tocava ela?

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  3. Sim, o filme retrata a questão de abuso sexual de modo implícito e não explicito.

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  4. Você poderia colocar o link com a cena que você citou acima?

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  5. Esta compreensão se dá ao longo do filme e não através de uma única cena.

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  6. .Quando vi o filme percebi a questão do abuso, mas como achei inadimissível pra mim mesma, interpretei como uma mãe superprotetora.Sou psicóloga e já atendi inúmeras crianças (meninas) que sofreram abusos por pessoas muito próximas, geralmente pais, avós e padrastos.É difícil pensar que uma mãe possa fazer isso, mas sei que é possível.

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  7. Não vi no final do filme uma morte real, mas sim o auge de Nina em superar sua mãe, matando-a dentro de si. A mãe espelhava-se na filha, mas diante da incapacidade de ter conseguido uma posição de destaque no Balet, teve, aos 28 anos de idade, relações sexuais visando seu crescimento, o que foi sua desgraça pessoal. Ficou grávida e precisou abandonar a carreira. Ao ter nina, criou a filha como espelho de sua própria imagem, mas jamais imaginaria que sua própria filha um dia poderia lhe superar. Portanto, a morte de Nina foi uma figuração subjetiva do seu inconsciente como libertação de toda a opressão que passava, o incesto. Para Nina essa morte figurava-lhe como a libertação das garras da mãe, ou seja, ela matou um desejo que lhe repreendia sua existência. Durante o filme, Nina retratou a bailarina de reserva como o espelho de sua mão. Todos os atos que as tratavam de uma possível relação homossexual com a amiga, na verdade era os abusos que sofria da mãe retratados em sua mente, não constituindo um ato verdadeiro visto nas cenas de lesbianismo.

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