Viciado em você
A relação afetiva é constituída
por três componentes, o Eu, o Tu e o Nós. Cada qual com suas particularidade, necessidades
e distinções.
O Eu é uma unidade que,
já existia antes da relação, que tem a sua personalidade, a sua subjetividade,
as suas ambições, os seus interesses, a sua vida e a sua independência.
O Tu é a outra célula que
partilha das mesmas peculiaridades do Eu.
Finalmente o Nós é a nova
construção, o novo núcleo, a partilha de
momentos vividos pelas duas unidades, que são o seu bem relacional mais
precioso, tudo aquilo que dá uma identidade a relação. Se esta célula não for
alimentada então a relação inevitavelmente mingua e acaba, porque não é regada,
nem construída ativa e conscientemente.
Quando se forma este Nós,
deixa de existir apenas um Eu ou um Tu isoladamente, mas o Eu também é Nós e o
Tu também é Nós. Então qualquer decisão tomada pelo Eu ou o Tu deverá ser
sempre feita mediante um acordo prévio com a célula Nós. Se algum dos
componentes não respeitar o Nós então dificilmente a relação poderá funcionar.
Além desta premissa fundamental, outra é a de que nenhuma das células pode
desaparecer e não pode apenas restar o Nós, porque isso é matar a
individualidade. Por isso não podem haver exigências de “full-time” para o Nós,
senão onde ficaria o Eu ou o Tu?
Quando um dos parceiros
sente que é muito mais dependente do outro elemento, como mais independente
então aí começam vários problemas na relação, pois gera uma situação de desequilíbrio. DEPENDENTE não financeiramente, ok? Mas com a
conotação de co-existir (existir à sombra de alguém, como se fosse necessário
ter o brilho (qualidades e potenciais) do outro por não perceber o próprio. A
pessoa dependente sente-se insegura, ansiosa, sente que precisa do seu
companheiro como se precisasse dele (vicio) para viver. A pessoa dependente,
geralmente está profundamente fragilizada e insegura, procura estar o maior
tempo possível com a outra pessoa e fazer inclusive as maiores loucuras para
viver ao máximo a sua violenta paixão. A pessoa dependente passa a considerar
qualquer momento vivido com o seu companheiro como algo inestimável, de máxima
importância e vitalidade para o seu bem-estar, semelhante a uma obsessão. Para
a pessoa dependente o mais importante é o companheiro, todo o resto é
indiferente.
A pessoa percebida
como independente, obviamente não fica ilesa nesta relação polarizada. Sente certa
superioridade, uma certa maturidade relacional pois é capaz de controlar o
turbilhão emocional que avassala ferozmente o/a seu/sua companheiro/a. A pessoa
identificada como independente poderá sentir até certo desdém, uma certa
desconsideração por partilhar a sua vida com uma pessoa dependente, que se
torna quase um “capacho” amoroso. Está gerada uma situação profundamente
disfuncional em que qualquer argumento que implique a pessoa considerada
independente ter que se afastar da dependente é considerado por esta como um
sinal de afastamento, de recusa, de evitamento, de fuga. A pessoa vista como
independente, por seu lado, vai-se sentido cada vez mais desconfortável com
todo aquele apego descontrolado e começa de facto a procurar ar puro fora
daquela situação percebida como de sufoco relacional.
Nestas situações é
preciso mudar…. Modificar pensamentos, percepções, atribuições e
comportamentos. É preciso arriscar mudar todo o jogo relacional. Para tal é
fundamental, compreender a dinâmica dos opostos, jogo de forças de aproximação
e afastamento, é preciso perceber esta dinâmica.
Haver uma noção de
igualdade e não de superioridade de um dos elementos face ao outro. Disputas, competições
e as hierarquizações destroem o núcleo sólido da relação, pois passa a haver um
excesso de importância dada a um dos elementos. Não há um único culpado, uma
relação tem sempre a parcela de culpa de cada um e não isoladamente. Saber
respeitar o Nós cria um espírito de união e de mútua colaboração. Procure um
terapeuta de casal.
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